25/03/2016

NEM PT, NEM PSDB, MUITO PRAZER! SOU MAURÍCIO: uma pequena crítica ao discurso novelístico-maniqueísta que tem condicionado o debate sobre a atual cena política brasileira

Prof.: Maurício R. dos S. Oliveira

"Cada vez se torna mais claro, para mim, que a ética deve dominar a razão" 
(SARAMAGO) 

PT E PSDB
A polarização maniqueísta das discussões políticas – a tentação de repartir o povo brasileiro entre o bem e o mal – somada a nossa incapacidade ética de definir o que seja o bem e o mal, patrocina um discurso ditatorial-moralista; a violência (em suas mais diversas formas); destacam a promiscuidade das relações entre os poderes, os governos e as grandes corporações e revelam um Brasil indevidamente judicializado; política, democrática, econômica, educacional e socialmente analfabeto. 

Nessa terra “onde se plantando tudo dá” floresce a falta de bom-senso e, em meio a uma guerra civil, cada vez mais presente, temos nos tornado o país do “vale tudo”, do justiçamento, pois certos da inoperância do Estado Democrático e de suas instituições (principalmente os partidos políticos, a justiça, a educação e a polícia) estamos recorrendo a selvageria do justiçamento (físico e verbal), legitimados pela Lei de Talião e munidos pelo “se ninguém faz nada, eu faço”. 

Contudo, o que me motiva a escrever este texto é o como indevidamente estamos discutindo as consequências da crise ética que nos atravessa, polarizando os discursos na ideia de um golpe (ou impeachment) e nas figuras de Lula e Dilma. E nos desapercebendo, por consequência, do debate que uma sociedade devidamente educada/esclarecida deveria promover: “o debate sobre nosso projeto de Brasil”, ou seja, estamos perdendo uma grande oportunidade de discutir as bases-valores daquilo que somos e desejamos ser enquanto gente e, conjugados no coletivo, enquanto nação. 
Por isso, defendo que deveríamos aproveitar este momento, mais que propício, para discutir sobre: 

I – os valores que constituem o que somos, o nosso paradigma de gente, a nossa brasilidade (em boa medida, o jeitinho, a malandragem, a cordialidade etc.); 
II - a função social, a estruturação e a articulação das relações entre as instituições;
II – o esvaziamento ideológico dos partidos políticos e a reforma política; 
III – a submissão das democracias as lógicas capitalistas (o poder das grandes corporações sobre os destinos dos governos);
IV – o poder da sociedade civil organizada (a opinião pública) e os modos de participação exigidos por uma democracia (o que é uma democracia?); 
V – o papel e a função social da imprensa (o nosso modelo de democracia entende que devemos respeitar o direito e agir em defesa da “livre expressão”, o que isso significa?); 
VI – a função social da polícia; 
VII – os modelos de organização e estruturação dos Estados (democrático, presidencialista, parlamentarista, ditatorial etc.). 

Nesse contexto, destaco que, a crítica à imprensa, principalmente ao enfoque dado a Rede Globo (não que eu a defenda) é um sintoma, uma das evidências mais relevantes da nossa incapacidade de discutir os temas supracitados de modo mais aprofundado, visto que, culpabilizamos a Globo, mas esse não deveria ser o cerne da questão, pois em um país democrático as pessoas/instituições têm direito à livre expressão (tutelado pelos limites impostos por uma legislação), mesmo que o que digam seja bobagem ou atendam a direitos corporativos escusos. E, no mais, censurar a imprensa, é tão ilógico quanto defender a ditadura. 

Assim, o que verdadeiramente deveria nos importar é saber até que ponto temos conseguido educar os nossos para ler, para enxergar (n)os intertextos – o para além do dito; logo, deveríamos estar lutando por um país no qual o direito da imprensa de informar conviva com o letramento científico-político, com a capacidade de julgar o mérito da notícia, pois esse sim é o nosso maior problema: resguardar o direito à liberdade de expressão sujeitando-o às lógicas do debate público e esclarecido. 

Portanto, a ausência de um debate público esclarecido, justificada pela polarização maniqueísta de discussões que têm como o foco um embate novelístico entre PT e PSDB mediatizado por um PMDB (que não sabe se vai ou se fica) e televisionado, com grande destaque, pela Rede Globo, tem nos feito olhar para a direção errada – a das consequências (impeachment ou golpe, como queiram); quando deveríamos estar discutindo, com maior destaque, as origens do mal ou “os males de origem” (referência distraída a Manoel Bomfim) que têm atravessado, cindido atomicamente ao meio, ou aos pedaços, aquilo que somos. E, como bem dizia Leonardo Boff: "o partido é parte e a parte é muito pouco para o intelectual".
 “viver sem ler é perigoso, te obriga a crer no que te dizem" (Quino)