Se aquele menino
Do pé de laranja lima
Soubesse que coleciono temores,
Que vivo desassossegado,
Que minto, desenho falsos sois em um lívido céu;
Que meço palavras, tropeço em vírgulas
E que trago no peito a lembrança sem cor
Dos joelhos feridos;
Mover-se-ia em minha direção
Com a ternura de quem pouco viveu, mas muito sabe
Se
aquele menino
Enigmático do pé de laranja
lima
Tivesse
olhos que pudessem ver
Além
dessa casca tênue que me envolve,
Estenderia
seus braços sobre meus galhos
Feito
vento vadio.
E
no misticismo mais profundo,
De
suas diminutas crenças,
Entregue
a ilusão pueril
Do
amor às pequenas coisas,
Sob
as fronteiras do tempo,
Olharia para mim admirado,
Homem feito
Brinquedo quebrado.
[MAURÍCIO RAMONND. Pequenas Verdades Distraídas.
2011. p.30].