06/08/2012

EU MENINO III

Oblíquo colibri menino,
Olhos intensos, enegrecidos, avaros,
Duros e hipnóticos pedintes.
Filho matutino do tempo,
Deitava-se sobre a relva,
Enquanto, assentava-lhe a alma
Uma réstia de sol sustenido,
Um outro passarinho cantava,
Sobre um seu ramo de arbusto;
Saltava inseto galhos de mangueira
Como pulasse corda sobre a estrela de Centauro.

Oblíquo colibri menino,
Cabelos cingidos tingidos, graúno curumim,
Camisa alva alvoroço alvorecer,
Havia em seu semblante um enigma,
Menino pássaro que o canto enleia,
Espargia aventuras pelo quintal seu mundo,
Enfiando-se entre folhas,
Na companhia de obtusos sapos;
Escondia-se dos outros pueris soldados;
Confundia-se entre plantas agrestes;
E em danação, papel deixado ao acaso,
Entregava-se a libertinagem brincante dos ventos.

Oblíquo colibri menino,
Boca reticente mameluca declinava mistérios;
Não media palavras, palavroso, palavrões palavrava.
Cabeça oca,
Incomodava a quietude do espírito interiorano;
Jogava pedras na casa do louco da rua,
Insurgente inocência;
Ícaro passante,
Voava asa de cera rente à estrela perdida da felicidade.
Efêmero,
Quase não sofria com infortúnios,
Era filho matutino do tempo e no sono todo pesar se extinguia.
E a vida?! Era só aquilo.
A noite passava uma borracha no dia,
E na aurora, ao lado de românticos galos, renascia.

(Maurício Ramonnd. 2012)

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